Sexo verbal: jovens não admitem, mas não usam camisinha
Jônatas Rosa
“Sexo verbal não faz meu estilo”. A frase é do cantor Renato Russo. Não pensada para falar da AIDS. No entanto, cabe bem para tratar do assunto. Não só pelo fato do próprio Renato ter sido vítima da doença. Hoje, 30 anos após a descoberta do vírus, o sexo é a principal forma de transmissão. E falar do assunto ainda é um tabu para muita gente.
“Em Sorocaba, a via de transmissão mais preponderante é a sexual”, afirma enfática a coordenadora do DST/AIDS de Sorocaba, Maria Tereza Dib, ao apontar os índices da doença em Sorocaba. Ela completa que a maior incidência dos casos está entre os jovens, indo dos 18 aos 45 anos. Logo eles, os jovens, que teoricamente são os mais antenados. “Uma que assim: o jovem [pensa] comigo não vai acontecer. Vai acontecer com meu vizinho, mas comigo [não], eu sou poderoso”, acredita Maria Tereza.
Para ela, outro ponto importante da falta de conscientização dos jovens é o fato deles não terem presenciado o começo da epidemia. “Onde as pessoas morriam de AIDS. Hoje as pessoas ainda morrem, mas morrem muito menos. Não tem aquele impacto que teve no início da epidemia”. Além disso, na avaliação de Maria Tereza, os jovens encontram mais oportunidades de uso de droga e de relações sexuais. “Eles estão muito mais pronto para isso. A liberdade sexual, a atividade sexual dessa faixa etária, diferente do início da epidemia quando as coisas não eram assim tão liberais”.
E falta de diálogo. “E até a falta de comprometimento no uso do preservativo”, diz Maria Tereza, “falar sobre o uso do preservativo com o parceiro. Ter essa habilidade de compartilhar uma necessidade, de cuidar, de cuidar do outro”. Além disso, ela revela que muitos pensam não ser perigoso deixar os cuidados de lado porque a doença tem tratamento. “A AIDS tem tratamento, é a banalização disso também”.
A coordenadora do Centro de Apoio e Orientação Sorológico de Sorocaba (COAS), Miriam Aparecida de Oliveira, completa que é preocupante, atualmente, o número de homossexuais atingidos pelo vírus. “Hoje a gente observa, nessa faixa etária [a partir dos 18 anos], é gritante [o número] de homossexuais que são soropositivos por conta da banalização da doença”.
Os jovens negam - Numa enquete realiza pelo Jornal Ipanema na rede social, com 20 jovens, todos responderam que, sim, usam camisinha em todas as relações sexuais. Afirmam, ainda, que costumam falar com o parceiro ou parceira sobre o assunto. Os motivos variam. De maneira geral, apontam que se sentem seguro, já a maioria não tem parceiro ou parceira fixo. Quem revela o medo de engravidar ou costuma usar quando a pílula anticoncepcional falha.
Mesmo para quem tem sexo com uma pessoa só, há risco. “As pessoas só se enxergam num relacionamento a dois”, explica Maria Tereza, “ e, na verdade, existe o passado dessas duas pessoas, existem os outros relacionamentos. Mas as pessoas [dizem que] o parceiro é fixo. É fixo nesse momento. Você teve outros parceiros, seus parceiros teve outras”. Para ela, independente do relacionamento, é preciso refletir sobre a própria vulnerabilidade e a vulnerabilidade do parceiro ou da parceira.
De acordo Maria Tereza, é preciso que sociedade entenda que todas as pessoas que têm vida sexual ativa ou usam drogas, correm o risco de contrair uma doença sexualmente transmissível. “Estão vulneráveis a qualquer DST [doenças sexualmente transmissíveis]. E ai não vamos falar só do HIV. Tem as Hepatites B e C, a sífilis. Porque a AIDS mata, matou muita gente, vem matando no mundo inteiro. Porém, a sífilis também está matando um montão de gente, está ‘sequelando’”.
Miriam revela que é comum atender paciente com qualquer DST e ouvir dele que, não, ele não fez sexo sem proteção. “O fato dele ter uma DTS significa que ele não tem uma constante de estar usando o preservativo. E uma DST em potencial, ela aumenta em 19 vezes o risco de uma HIV”.
Sexo, verbal ou não. Isso faz parte da vida das pessoas. A medicina, os estudos já apontaram os benefícios do sexo. E todo mundo sabe: sexo é bom. Melhor ainda se não trouxer nenhuma consequência grave.
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